De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019, as mulheres receberam 77% do salário dos homens. Além disso, é incomum que mulheres cheguem a posições de destaque nas organizações. Apenas 8% das 500 maiores empresas do mundo têm mulheres CEO. No Brasil, o cenário é similar: apenas 3% dos CEOs são mulheres nas maiores empresas do país.
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Mas afinal, o que provoca esse resultado? A maternidade é a grande vilã? De acordo com Adriana Drulla, mestre em Psicologia Positiva pela Universidade da Pensilvânia (EUA) e especialista em Compaixão e Autocompaixão, glass ceiling, ou teto de vidro, é o nome dado à barreira invisível que dificulta que as mulheres sejam promovidas para cargos importantes.
“Esta é uma barreira que as mães não costumam conhecer. É que muito antes disso somos eliminadas no paredão. As pesquisas chamam de Maternal Wall os obstáculos profissionais impostos às mães. Não conheço os dados no Brasil, e é provável que nem os tenhamos. As mães também têm menor probabilidade de contratação e além disso, cerca de 30% das mães passam tempo expressivo longe do mercado de trabalho. E engana-se quem pensa que é por escolha. Na maioria das vezes, a mãe sai do mercado pela desvalorização profissional e por não ter com quem dividir as obrigações familiares”, explica a especialista.
Na pandemia da covid-19, a saída das mães do mercado de trabalho foi 46% mais frequente do que a saída de mulheres sem filhos e a saída das mães foi quase três vezes maior do que a saída de pais.
No Brasil, a situação não é melhor para as mulheres mães no mercado de trabalho. Segundo o estudo Estatísticas de Gênero, divulgado pelo (IBGE) em março deste ano, apenas 54,6% das mães de 25 a 49 anos que têm crianças de até três anos em casa estão empregadas. Muitas empresas ainda enxergam a maternidade como um risco a pessoas que já estão empregadas e àquelas com carreiras consolidadas.
Erica Castelo, headhunter brasileira com atuação global aponta que é incrível o desperdício de talentos ao se limitar a atuação da mulher no mercado devido à maternidade. ‘’Perdem as empresas, que contariam com pessoas ainda mais capacitadas com a experiência que a maternidade traz, e perde a economia brasileira com mais pessoas fora do mercado ou com salário abaixo do valor devido”, salienta.
Uma pesquisa divulgada pela FGV (Fundação Getúlio Vargas)em 2017, chamada “Licença-maternidade e suas consequências no mercado de trabalho do Brasil”, feita com 247 mil mulheres, mostrou que metade delas perderam seus empregos após a gravidez. O estudo também constatou que as trabalhadoras que saem de licença-maternidade são demitidas em até 24 meses após o nascimento da criança. Já um outro levantamento, este realizado pelo InfoJobs, revela que 51% das mulheres já sofreram algum tipo de preconceito dentro do ambiente corporativo.
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Erica Castelo diz que apesar dos números acredita que esse cenário está prestes a mudar. ‘’Mesmo com os números desfavoráveis, percebo em meu dia-a-dia com clientes que buscam talentos que o ‘’glass ceiling’' vai aos poucos perdendo a força’', destaca a especialista.
‘’As empresas parecem estar começando a se conscientizar de que a mulher que vivencia a maternidade se torna uma profissional mais multi-task, resiliente, empática e negociadora - comportamentos muito valorizados hoje em dia’', completa.