Certamente você já passou por um momento como este: família reunida na sala para assistir um filme, quando de repente, pá, uma cena de sexo que te deixa extremamente constrangido na frente da sua mãe e do seu pai.
ANÚNCIO
Com o sexo e questões de sexualidade sendo tratados com tanta naturalidade hoje em dia, é até difícil imaginar que nem sempre foi assim. Houve um tempo em que a TV era praticamente ausente de sexo.
Então o que mudou? Gostaríamos de levá-lo em uma jornada pela história da televisão para explorar como as representações de sexo e sexualidade mudaram ao longo dos anos.
· · ·
Se você está gostando deste texto, é provável que também se interesse por: “Jogo de temperatura é a maneira mais fácil de obter mais orgasmos”
· · ·
A televisão dos anos 1950 não era o que você chamaria de liberal. A censura da TV era apertada com espartilho, o que significa que os casais na tela não podiam ser mostrados (que Deus me livre) dormindo na mesma cama. ‘I Love Lucy’ é o exemplo perfeito. Os personagens principais, Lucy e Ricky, sempre foram mostrados deitados lado a lado em duas camas separadas, mesmo que os atores Lucille Ball e Desi Arnaz fossem casados na vida real. Lucy nem sequer tinha permissão para usar a palavra “grávida”, sempre se referindo a situação como estando “com filho” ou “tendo um bebê”.
ANÚNCIO
Na década de 1960, enquanto um relaxamento da censura moral permitiu que a TV em outros países se tornasse mais aberta à ideia de discutir a sexualidade, no Brasil passávamos por uma ditadura que ditava tudo o que era transmitido ao público.
Nessa época, por exemplo, a BBC transmitiu ‘Up The Junction’, de Ken Loach, em 1965, como parte de sua série ‘The Wednesday Play’. O drama segue três jovens, Rube, Sylvie e Eileen, que vivem e trabalham em Battersea, Londres. O programa provocou pânico moral entre os espectadores mais conservadores por sua discussão sobre relacionamentos sexuais fora do casamento e representação de um aborto clandestino.
Na década de 1970, os casais não estavam apenas compartilhando colchões, mas falando sobre sexo, sexualidade e contracepção. Mas, apesar dessa nova abertura para discussões em torno do sexo, o ato em si ainda raramente era retratado na tela, com exceção, aqui no Brasil, das famosas pornô chanchadas.
As coisas deram um passo para trás na década de 1980. Enquanto as redes de TV faziam o possível para trazer ao ar livre as discussões anteriormente fechadas sobre sexo, a maioria das histórias se concentrava em belas pessoas cis fazendo sexo heteronormativo. Ao mesmo tempo, os programas começaram a se inclinar para narrativas anti-sexo, retratando o sexo como um ato tabu a ser evitado. Essa tendência continuou na década de 1990. Programas como ‘Degrassi: The Next Generation’, da TeenNick, frequentemente se concentravam nos aspectos negativos de um estilo de vida sexualmente ativo, como ISTs, gravidez na adolescência e agressão.
A década de 1990 também viu um foco maior na sexualidade feminina. Com a luta contra a desigualdade sexual supostamente vencida, o mundo foi apresentado a um novo tipo de mulher sexualmente liberada. As redes de TV correram para atender a essa onda de “pós feministas”, para quem a promiscuidade sexual era um ato político. ‘Grey’s Anatomy’, com suas cenas de cunilíngua, relacionamentos lésbicos e cunhagem do termo ‘Vajayjay’, é um excelente exemplo.
Depois, há ‘Sex And The City’, cuja protagonista é uma colunista de sexo feminino que – sem surpresa – faz muito sexo. Embora por que alguém pensou que Carrie Bradshaw seria uma boa colunista de sexo, eu não sei. Sua visão do sexo é extremamente limitada. Ela não apenas não acredita na bissexualidade, mas também provoca seus amigos sobre seus encontros sexuais e envergonha publicamente um de seus próprios parceiros sexuais por seus fetiches.
Os anos 2000 colocaram ainda mais foco na vida sexual das mulheres. ‘Tipping The Velvet’, que apresentava Keeley Hawes como uma estrela de music hall vitoriana travestida chamada Kitty, provocou indignação entre os leitores do Daily Mail por suas várias cenas de sexo lésbico. A representação do orgasmo feminino no programa foi um divisor de águas, assim como o ‘Secret Diary of A Call Girl’, que foi ao mesmo tempo uma tentativa admirável de redefinir o retrato das trabalhadoras do sexo na TV e uma desculpa para homens desconfiados verem Billie Piper de calcinha. Mas comparado com o que estava prestes a seguir, era tudo relativamente leve.
Na década de 2010, programas da HBO como ‘Masters of Sex’, ‘Game of Thrones’ e ‘Girls’ fizeram do ato de transar um grande negócio. Além de apresentar três ou quatro decapitações por episódio, as primeiras temporadas de ‘Game of Thrones’ contêm quantidades incríveis de nudez frontal completa, várias representações de estupro e inúmeras orgias em plena luz do dia.
Nos dias atuais, programas como ‘Sex Education’ e ‘Big Mouth’ fizeram um excelente trabalho ao reimaginar o drama adolescente centrado no sexo, trazendo um tom honesto, respeitoso e hilário a um gênero antes clínico. O uso da comédia em ambos os programas permitiu que eles se envolvessem com os jovens em seus próprios termos e discutissem questões como sexo seguro, agressão e relacionamentos sexuais saudáveis de forma aberta e honesta. Ainda bem, muita coisa mudou desde os anos 50.
· · ·
Siga e compartilhe
Você gostou deste conteúdo? Então siga a NOVA MULHER nas redes sociais para acompanhar mais novidades e ter acesso a publicações exclusivas: estamos no Twitter, no Instagram e no Facebook.
Aproveite e compartilhe os nossos textos. Seu apoio ajuda a manter este site 100% gratuito. Cada contribuição é muito valiosa para o trabalho da nossa equipe de redatores e jornalistas.