Em 1987, Leila Griff tinha apenas 13 anos quando conheceu Ademilson, de 15 anos, na escola. “Me lembro que estudava à tarde e ele era do turno da noite, na mesma escola. Toda dia, ele jogava bola na quadra e na hora do recreio eu corria só para vê-lo. Um belo dia, uma amiga que estudava comigo nos apresentou”, conta em seu relato publicado na revista Marie Claire.
ANÚNCIO
A partir disso, os dois começaram uma paquera longe da vista do pai de Leila que era bravo e não admitia que ela namorasse. Ela, então, decidiu fugir de casa. “Fui trabalhar como babá e morar na casa dos patrões e, assim, eu e Ademilson continuávamos a nos ver. No ano seguinte, já com 14 anos, tivemos a nossa primeira relação sexual e, cinco meses depois, já estava grávida. Ele foi meu primeiro namorado e eu a dele. Logo nos casamos e tivemos dois filhos -- Luana, hoje com 28 anos e Luan, com 27″, conta.
Os dois passaram muitos anos juntos até que um dia Ademilson saiu do trabalho e foi beber com uns amigos. “Lá, se envolveu numa briga boba de bar e pegou um táxi para ir para casa. Atiraram no carro e os tiros o atingiram na cabeça. Na época, tinha apenas 26 anos e eu, 24. Levado para o hospital, foi operado de emergência e achei que tudo ia ficar bem. Mas, depois de três dias na UTI, teve morte encefálica. Na hora que eu recebi a notícia, eu estava só no hospital e mal senti minhas pernas. Foi um tremendo choque! De uma hora para outra, estava viúva, sozinha e com dois filhos para criar, entre 6 e 8 anos”, comenta.
Antes de sua morte, o marido havia chegado em casa dizendo que havia se cadastrado como doador de órgãos. “Lembro como se fosse hoje de dizer: ‘Está louco? Jamais deixaria que tirassem nada de você, nem um pedacinho’. Mas, naquele momento, diante do médico, mudei de ideia. Ele me disse que seus órgãos estavam intactos e que eu poderia mantê-lo vivo dentro de outras pessoas, levando saúde e felicidade para pessoas que precisavam. Só aí decidi assinar o termo de doações dos órgãos do meu marido, a pessoa mais importante da minha vida”, revela.
Ela sonhou que encontrava o amor da sua vida em Los Angeles e decidiu ir em busca dele
Um novo amor para recomeçar
Uma ano após a morte do marido, Leila estava em casa quando um homem apareceu no portão. “Era Celeidino, o cara que havia recebido o coração do meu marido. Pegou nosso endereço no hospital e fez questão de nos agradecer pessoalmente. Contou que já estava sem esperança quando recebeu o transplante. Sofria de cardiomiopatia delatada, ou seja, seu coração cresceu demais e tinha, segundo o médico, àquela altura tinha apenas seis meses de vida e já estava há tempos na fila de espera do transplante”.
O mais interessante é que Celeidino chegou dizendo: ‘Muito prazer! Sou o rapaz que recebeu o coração do seu marido’. “Quase caí para trás! Quando me recuperei um pouco do baque, estendi a mão para cumprimentá-lo. Ele me puxou, me abraçou fortemente e disse: ‘Sinta aqui o coração do seu marido bater’. Fiquei tão comovida que as minhas pernas amoleceram e comecei a chorar. Ele entrou, conheceu os meus filhos e, em pouco tempo, estava frequentando nossa casa”, revela Leila.
ANÚNCIO
Apesar de Leila ficar um pouco receosa com a chegada deste homem, o fato de ele estar com o coração do ex-marido fez com que ela amolecesse. Os dois se tornaram amigos, mas com o tempo se apaixonaram.
“E, com a convivência, acabou adotando os meus. Desde que nos conhecemos, todas as vezes que ele ia ao médico na cidade onde eu morava, em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul (ele era de outra cidade, a 300 km de distância), Celê passava lá em casa para ver as crianças, que logo pegaram muito afeição e carinho por ele. Nessa época, para dar conta das despesas da casa e de dois filhos pequenos, eu tinha dois empregos”.
“Durante o dia, era cozinheira e, à noite, trabalhava como garçonete. Para se ter uma ideia, às vezes era o Celedino que passava para levar ou buscar as crianças na escola. E assim, foi se aproximando. Devagar, como quem não quer nada, passou a ir cada vez mais lá em casa, fazer as refeições conosco e foi conquistado toda a família”, afirma.
“Dois anos depois de nos conhecermos, ele abriu uma oficina de pintura de carros e motos na minha cidade. Um dia, fui levá-lo até o portão de casa e, sem que eu esperasse, ele me beijou. Levei um susto! Juro que nunca o havia enxergado com outros olhos que não fosse de um grande amigo. Eu até tinha outros paqueras, nessa época. Mas, como sempre sincero, Celedino confessou que há tempos já estava gostando de mim. No início, resisti”, conta Leila.
“Me sentia um tanto culpada e envergonhada por me envolver com o homem que carregava o coração do meu falecido marido. Parecia até história de novela. Mas, meus filhos fizeram a maior campanha, lideraram a torcida e me pediram que eu ficasse com o ‘novo pai’ deles! Aí, fui me envolvendo e me entreguei”.
Após três anos da morte do ex-marido, os dois começaram a namorar e o mais estranho é que Leila foi notando algumas semelhanças entre os ‘dois maridos’. “Ambos eram homens muito generosos, extremamente honestos e o Celê me chama pelo mesmo apelido que o ex me chamava: gata! E tanto um como o outro nunca me chamavam pelo nome, a não ser quando estivessem bravos. Passei a notar coincidências assustadoras entre um e o outro”, complementa.
“Eles eram de fazer amigos com muita facilidade e os dois amavam o cantor Raul Seixas. Tanto que a coleção de vinis que o Celedino tinha do Raul era idêntica à do Ademilson. Os dois também eram muito brincalhões com as crianças e tinham a mania de colecionar aquelas figurinhas de álbuns (o pai costumava colar nos álbuns junto com os filhos e o Celeidino fazia o mesmo). Ah, e tem mais. O melhor amigo do Ademilson passou também a ser o melhor amigo do Celeidino, com o mesmo grau de afinidade. Ele se chama Eliezer e se tornaram amigos porque a esposa dele é muito minha amiga e sempre frequentou a minha casa. Os dois também possuem o mesmo trabalho, ambos são pintores automotivos. Então, imagina... Haja assunto sobre carros e afins”.
Leila ainda revela que quando assumiu sua relação com Celê muita gente fazia alguns comentários maldosos. “Muitos achavam estranho, até mesmo pela nossa diferença de idade -- ele tem 15 anos a mais que eu. Com tantos rapazes mais jovens, se perguntavam por que eu resolvi me apaixonar justo por ele. Mas, com o passar do tempo, todos passaram a respeitar a nossa decisão”. O amor venceu.
Conheça a história da Miss Argentina e Miss Porto Rico: eram amigas e se apaixonaram