Embora o meme do ‘homem que resolve’ para muitos reflita o desejo de ter um parceiro adulto funcional, talvez, no fundo, seja mais machista do que se poderia imaginar.
Isso ocorre simplesmente porque, assim como às mulheres foi exigido por séculos que cumprissem certas características que não são exigidas aos homens, em uma sociedade patriarcal, essas características são implícitas para os homens.
Não apenas pelo fato de terem que ser provedores, ‘rudes’ e ter um manejo prejudicial de suas emoções, entre outros papéis de gênero de séculos atrás. Mas também pelas responsabilidades que ambos os parceiros têm (assim como o gerenciamento das expectativas) nos relacionamentos modernos.
Um homem que ‘resolve’, como tem sido retratado em muitos produtos culturais interpretados nos parâmetros atuais, é aquele que lida com tudo. Desde o Sr. Darcy em ‘Orgulho e Preconceito’, até aquele que equilibra as cargas na relação conforme o que pode. O ponto é que muitas pessoas interpretam isso como um ‘dever ser’.
O meme popular diz que ele transfere dinheiro se necessário, é pró-ativo nas tarefas domésticas, lida com suas emoções de forma saudável... ou seja, tudo o que um adulto funcional deveria ser, mas não atende às expectativas nem aos contextos individuais. E o meme tem sido recebido por muitas mulheres que não encontram homens nesse estado de maturidade e funcionalidade na cultura atual. Na verdade, eles são mais infantis em seus comportamentos, afirmam.
Mas, o que acontece quando na vida real nem os homens nem as mulheres se adaptam a esse nível de expectativas? Além disso, quando não há uma pessoa que realmente possa cumprir todos esses pontos da lista?
É o novo ‘homem que resolve’ o príncipe sobre o cavalo branco que não permite ver que as pessoas têm suas falhas e, independentemente do gênero, estamos cheios de expectativas que só podemos cumprir até onde podemos, na medida em que nos funcionam?
“Eu me revolto, continuo solteira”
O meme se tornou tão popular que muitos se perguntam se ‘resolvem’ e outros homens nas redes sociais expressaram que isso é apenas colocar a responsabilidade neles.
“Também é preciso ser ‘mulheres que resolvem’, pedir o que estamos dispostas a dar também, pergunto-me se todas as mulheres temos e preenchemos também os ‘requisitos’ para sermos amadas e valorizadas por um homem assim, não apenas por sermos mulheres e pronto. Reciprocidade também é a linguagem do amor”, diz uma mulher.
Outras concordam que os homens finalmente mudem seus papéis de gênero tradicionais.
O problema? Seja para homem ou mulher, ninguém pode cumprir uma lista de expectativas completamente e de apenas uma maneira, porque cada pessoa é única.
Isso ficou evidente quando, por exemplo, várias TikTokers falaram sobre os homens que gostam e que não estão dispostas a dar nada no relacionamento, como aconteceu com a influenciadora colombiana Salppicón no início do ano.
Onde está um relacionamento onde um não se sinta oprimido pelo outro e onde possam construir algo além das expectativas criadas nas redes sociais?