O namoro ou casamento já tem um tempo. Você ama e confia na pessoa, mas em alguma ocasião ele quer transar e você não quer. Voce diz que não, mas ele continua e termina o ato com a maior normalidade. O que sobra da situação é uma sensação estranha de nojo e repulsa. Pode parecer algo comum, mas não é. A situação deve ser encarada pelo nome: estupro em relacionamento.
“Eu tinha bastante medo das reações dele quando estava estressado, e acabei perguntando se ele queria ir para um lugar só nós dois. Rapidamente, ele parou o estresse dele, perguntou se eu tinha certeza, e eu falei que sim. Mas, hoje, tenho plena certeza de que falei sim porque estava com medo. Quando cheguei lá, vi que não era certo fazer aquilo por medo e disse que não queria mais, mas ele não ouviu. Ele só queria fazer o que queria fazer. Quando ele acabou, foi abrir uma cerveja, e eu fiquei olhando para a cama cheia de sangue”, o relato é de Larissa, mais conhecida como Anitta.
A cantora desabou sobre a situação que ocorreu quando ela tinha apenas 14 anos em seu documentário “Anitta: Made in Honório”, que estreou nesta quarta-feira (16/12), na Netflix. O desabafo de Anitta é feito com coragem. Coragem de quem sabe que será questionada por uma sociedade que ainda não entendeu que estupro pode acontecer até mesmo dentro de um relacionamento.
Um levantamento do Instituto DataSenado em parceria com o Observatório da Mulher Contra a Violência, realizado em 2017, constatou que 74% dos casos de violência contra a mulher (incluindo todo tipo de agressão), tem como autores pessoas que têm ou tiveram relações afetivas com a vítima. Os dados ainda apontam que deste percentual 41% os autores das agressões são atuais maridos, companheiros ou namorados.
Saber identificar estupro no relacionamento é fundamental
“A maioria das mulheres foi educada achando que o sexo faz parte das obrigações do sexo feminino nas relações afetivas, dessa forma, acabam por naturalizar o sexo forçado, não identificando as situações de violência sexual”, explica a cartilha “Prevenção da Violência Contra a Mulher”, desenvolvido pela Secretaria da Saúde do Rio de Janeiro.
Algumas maneiras de identificar se houve estupro no relacionamento é questionando as atitudes do parceiro.
Por exemplo: ele força você a ter relações sexuais contra a sua vontade? Ele se recusa a usar camisinha, dizendo que você está desconfiando dele?
Ele já transou com você enquanto estava desacordada? Ele já te filmou enquanto vocês transavam sem autorização?
Caso a resposta seja sim, isso é estupro.
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“As mulheres ainda acreditam que, quando se casam ou quando estão se relacionando de forma mais duradoura com aquele homem, elas têm o dever de satisfazer os desejos sexuais ou, pior, a “necessidade biológica sexual do homem”, que seria maior que a da mulher. Ainda existe essa noção tão equivocada, e é por isso que o estupro no casamento é tão invisibilizado e subnotificado”, explica Silvia Chakian de Toledo Santos, promotora de justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo, a agência Patrícia Galvão.
Sim, você pode denunciar estupro no relacionamento
O estupro marital figurava na lista de violações aos direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) desde 1993. No Brasil, a Lei Maria da Penha entende que estupro no relacionamento pode ser denunciado. “Entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força”.
Diante disso, você pode, e deve, denunciar estupro no relacionamento. Você pode fazer isso no Disque 180 que é uma Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência.
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