Na noite da última quinta-feira (17), as redes sociais se revoltaram com a divulgação de um vídeo gravado na Câmara dos Deputados no qual a parlamentar Isa Penna (PSOL) sofre assédio sexual ao ser apalpada pelo deputado Fernando Cury (Cidadania).
O caso não é isolado na política. No último mês, Carol Dartora (PT), primeira vereadora negra eleita em Curitiba recebeu um e-mail com ofensas racistas e machistas e ainda com ameaça de morte. O mesmo se passou com a primeira mulher prefeita de Bauru (SP), Suéllen Rosim (Patriota) e a primeira vereadora negra de Joinville (SC), Ana Lúcia Martins (PT).
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Além disso, Duda Salabert (PDT), a primeira vereadora trans e a mais votada em Belo Horizonte, recebeu xingamento transfóbico. A deputada Talíria Petrone também vem recebendo diversas ameaças e teve que pedir proteção à ONU. Sempre vale lembrar que a vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL) foi assassinada e até hoje não sabemos quem foram os culpados.
Em todos os casos há uma mensagem direta sendo transmitida pelos homens: elas podem ocupar espaços, mas não sem consequências. Esse tipo de pensamento, muitas vezes inconsciente, é fruto de uma criação da masculinidade tóxica.
A perda de privilégios por parte deles, mesmo que mínima, tem como resposta exatamente a atitude patriarcal: a disseminação do ódio, o assédio sexual como uma maneira de alertá-la que eles ainda têm o poder e as ameaças de morte como uma maneira de silenciá-las pelo medo.
O que está em jogo neste caso, além da vida das parlamentares, é a democracia. O Instituto de União Parlamentar (IPU) explica que “a violência contra as mulheres no parlamento representa um sério desafio à democracia. Além de ser uma violação flagrante dos direitos humanos, impede seriamente o acesso das mulheres a posições de liderança e sua capacidade de cumprir o mandato para o qual foram eleitas”.
A socióloga e advogada Heleieth I. B. Saffioti explica em seu livro “O Poder do Macho” como a relação de dominação dos homens da sociedade ocorre. Em determinado trecho, ela enfatiza que “o poder está concentrado em mãos masculinas há milênios. E os homens temem perder privilégios que asseguram sua supremacia sobre as mulheres”.
O estudo Violence against Women in Politics, desenvolvido pela ONU, constatou, por exemplo, “que a implementação insuficiente das leis, a falta de apoio da polícia e do judiciário, a divisão socioeconômica e as atuais estruturas de poder são os principais motivos da violência”.
Diante disso, não basta apenas que mulheres ocupem a polícia. É fundamental e democrática que existam leis que possam garantir a elas segurança e bem-estar para exercerem seus mandatos.